O ano começou com uma escalada da violência no Brasil. Na semana passada, acompanhamos as ações de uma facção criminosa aterrorizando o Rio Grande do Norte. Mais de 20 cidades, incluindo a capital do estado, Natal, registraram ataques a tiros e incêndios contra prédios públicos, comércios e veículos privados e dos poderes administrativos.
Devido ao grande volume das ações dos delinquentes e à audácia dos bandidos, a situação chamou atenção da imprensa e dos governantes, que buscam mobilizar esforços para dar uma resposta à sociedade.
Entretanto, os dados mostram uma piora nos indicadores de segurança neste primeiro trimestre. Dois dos principais estados do país encabeçam esse cenário.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), houve aumentos de homicídios dolosos (com intenção de matar) em 5,9%, de estupros (14,8%), de furtos (11,5%) e de roubos em geral (2%) no mês de janeiro, se comparado com o mesmo mês em 2022. Na capital do estado, foram registradas 19.115 ocorrências nos primeiros 31 dias de 2023, uma alta de 17,7% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 16.231. Este número é um recorde para o mês de janeiro desde que o índice começou a ser acompanhado, em 2002.
Outro exemplo alarmante pode ser observado no estado do Rio de Janeiro, onde os roubos a residências aumentaram 24,8% nos dois primeiros meses deste ano na comparação com o mesmo período de 2022. Para completar, na confrontação destas duas épocas, o número total de furtos subiu 18,8% e o de homicídios dolosos se elevou em 8,6% em solo fluminense.
Os dados apontam para o que já sabemos. Nossa segurança pública é limitada e falha. Não existe um plano de combate que aja em todo nosso território. Cada polícia enfrenta seus desafios dentro de sua república federativa, sem uma inteligência que possa integrar de forma nacional.
Na contramão dessa ineficiência, os criminosos estão cada vez mais conectados. Vão se multiplicando e agindo por todo o Brasil, sem respeitar fronteiras. As leis seguem brandas e, aliadas a uma política carcerária que lota presídios, servem de incentivo para o mundo do crime. A sensação de impunidade é o combustível para aumentar a violência.
As autoridades precisam atuar na raiz de todo o problema e, ao mesmo tempo, reduzir de forma ostensiva os impactos da criminalidade. São duas frentes que têm de andar juntas e apressadas.
Políticas públicas, como educação, saúde, moradia e saneamento básico devem ser estruturadas para agir na base, pois é na ausência do Estado que os delinquentes crescem na prática de seus delitos e atuam como a única opção para uma população marginalizada.
Na outra ponta é preciso investir em inteligência, unificar dados para que se consiga mapear as facções e poderes paralelos. Antever suas ações, cortar os seus financiamentos, além de punir com veemência os seus líderes.
O cenário é complexo e, somente com muito empenho e foco, poderá ser mudado. Foco, neste caso, significa interesse por parte dos governantes em resolver. A questão que fica é: a falta de foco atual interessa a quem?